Logistics O Filme Mais Longo do Mundo e o Impacto das Cadeias Globais

No mundo do cinema, estamos acostumados a histórias curtas e dinâmicas. Mas e se um filme desafiasse essa lógica, transformando o próprio tempo em personagem? Essa é a proposta de “Logistics”, o filme mais longo já feito, com impressionantes 857 horas de duração – o equivalente a 35 dias e 17 horas. Criado pelos cineastas suecos Erika Magnusson e Daniel Andersson, este projeto monumental não só redefine o conceito de narrativa como também nos obriga a encarar a complexidade da logística global.

A Gênese de um Projeto Único

Em 2008, Erika e Daniel começaram a se questionar sobre a origem dos objetos que utilizamos diariamente. Eles decidiram investigar a trajetória completa de um pedômetro: desde sua fabricação em Shenzhen, na China, até sua chegada a uma loja em Estocolmo, na Suécia. Mas, em vez de filmar pequenos momentos dessa cadeia de produção, optaram por capturar todo o processo em tempo real, sem cortes ou edições aceleradas. Assim nasceu “Logistics”, uma obra que revela o intrincado mundo das cadeias de suprimentos globais.

A Jornada do Pedômetro

O filme começa em uma loja na Suécia, onde um simples pedômetro está à venda. Em seguida, seguimos a mercadoria em uma jornada épica por diversos meios de transporte: caminhões, trens e navios porta-contêineres. O percurso atravessa várias cidades, como Gotemburgo, Roterdã e Algeciras, até chegar à fábrica chinesa no distrito de Bao’an. Cada etapa é filmada em tempo real, convidando o espectador a refletir sobre a imensidão de recursos e esforços necessários para produzir e distribuir um único item.

Mais que Cinema: Uma Reflexão sobre o Consumo

“Logistics” não é apenas um filme; é uma peça de arte conceitual. A obra provoca reflexões sobre o impacto ambiental e humano das cadeias de produção e transporte. Ao mostrar cada detalhe da jornada logística, o filme nos obriga a considerar questões muitas vezes ignoradas: de onde vêm os produtos que usamos? Quantos recursos foram gastos para que eles chegassem até nós? E qual o custo humano por trás disso?

O tempo em “Logistics” desempenha um papel central. Assistir ao filme (mesmo que apenas partes dele) é uma experiência de paciência e introspecção. Ele expõe como o tempo que economizamos como consumidores é compensado pelo trabalho intensivo de milhares de pessoas em diferentes partes do mundo.

Desafios de Exibição

Dada sua duração extraordinária, “Logistics” foi exibido de maneiras não convencionais. Em Estocolmo, por exemplo, o filme foi projetado continuamente por cinco semanas no Kulturhuset, de 1º de dezembro de 2012 a 6 de janeiro de 2013. Além disso, uma versão online foi disponibilizada, permitindo que espectadores ao redor do mundo experimentassem essa obra única no conforto de suas casas – embora dificilmente alguém tenha assistido à produção completa.

O Legado de “Logistics”

Embora poucos tenham visto o filme em sua totalidade, o impacto de “Logistics” vai além do tempo de exibição. Ele redefine os limites do cinema e coloca em destaque questões sobre globalização, consumo e sustentabilidade. O filme nos lembra que, em um mundo interconectado, nada é tão simples quanto parece.

Ao final, “Logistics” nos deixa com uma importante reflexão: no frenesi da vida moderna, muitas vezes ignoramos as histórias invisíveis por trás dos objetos que consumimos. Talvez seja hora de desacelerar e olhar mais de perto.

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