A era digital trouxe à tona uma questão que antes era inimaginável: o que acontece com nossa presença online quando morremos? Mais especificamente, o que ocorre com nossas redes sociais, como o Facebook, quando não estamos mais aqui? Esse é um tema sensível e profundamente relevante, dado o quanto as plataformas digitais tornaram-se parte de nossas vidas.
A difícil transição digital após a morte
A história de Mariana ilustra bem essa questão. Aos 35 anos, ela perdeu seu pai, que era um usuário ativo do Facebook. A cada notificação que recebia de aniversário, ou mesmo as memórias que surgiam no feed, ela revivia a dor da perda. Essas lembranças, enquanto reconfortantes em alguns momentos, também eram gatilhos para a tristeza. Após alguns meses, ela se viu na necessidade de decidir o que fazer com o perfil do pai falecido. Manter o perfil ativo? Deletar a conta? Transformá-lo em uma conta memorial?
Foi aí que ela começou a pesquisar sobre as opções que o Facebook oferece para os perfis de pessoas falecidas, descobrindo uma série de alternativas que variam desde a simples exclusão da conta até transformá-la em uma espécie de homenagem permanente.
Opções para perfis de falecidos no Facebook
O Facebook entende a sensibilidade do tema e oferece três principais alternativas para os perfis de usuários que falecem:
- Conta memorial: Essa opção é a mais utilizada por familiares e amigos. Quando uma conta é transformada em memorial, o perfil permanece no ar, mas com algumas restrições. O nome da pessoa falecida aparece com a palavra “Em Memória de” antes, e o perfil continua a existir para que amigos e familiares possam postar homenagens e compartilhar lembranças. Uma das características mais importantes desse tipo de conta é que ela não aparece mais nas sugestões de amizade ou em lembretes de aniversário, evitando o desconforto de ser notificado sobre o aniversário de uma pessoa que já não está entre nós.
- Exclusão permanente da conta: Outra opção, disponível para familiares próximos, é solicitar a exclusão completa da conta do falecido. Isso remove todas as informações do Facebook, como fotos, posts e interações. Para realizar esse procedimento, é necessário enviar uma documentação comprobatória da morte, como uma certidão de óbito, além de provar a relação de parentesco com o falecido.
- Designação de um contato herdeiro: Essa é uma funcionalidade que muitos usuários desconhecem, mas que pode ser crucial para garantir que seu perfil seja tratado de acordo com suas vontades após a morte. O contato herdeiro é uma pessoa designada pelo usuário enquanto ainda está vivo. Esse contato terá permissão para gerenciar a conta após o falecimento, o que inclui escrever um post fixado no topo da linha do tempo (como uma mensagem de despedida ou aviso sobre o falecimento), atualizar a foto de perfil e aceitar novas solicitações de amizade. No entanto, o contato herdeiro não pode fazer login na conta, ler mensagens privadas ou remover conteúdos antigos.
A importância de planejar nossa “morte digital”
Assim como Mariana, muitas pessoas não pensam sobre o que vai acontecer com sua vida digital até que a perda de um ente querido traz essa realidade à tona. Contudo, em um mundo onde grande parte das nossas interações sociais ocorre online, é cada vez mais relevante pensar em nosso “testamento digital”.
Enquanto um testamento tradicional cuida da divisão de bens materiais, um testamento digital define o que será feito com suas contas online, incluindo redes sociais, e-mails e serviços de armazenamento de dados. Por mais que pareça algo distante ou irrelevante para muitos, evitar esse planejamento pode deixar familiares e amigos em situações delicadas, como a gestão de informações pessoais que podem ser valiosas ou sensíveis.
Além disso, a crescente dependência das redes sociais e da internet para comunicar eventos importantes, como falecimentos, tem gerado um novo campo de discussões éticas. Manter ou excluir um perfil digital pode impactar a forma como a memória de uma pessoa é perpetuada no ambiente online.
O impacto psicológico de manter perfis de falecidos
Se, por um lado, manter um perfil ativo pode ser uma forma de celebrar a vida de alguém, também pode ser emocionalmente desafiador para aqueles que estão em processo de luto. No caso de Mariana, a primeira decisão foi transformar o perfil de seu pai em uma conta memorial. Isso deu à família e aos amigos a oportunidade de deixar mensagens de carinho e lembranças. No entanto, para ela, a presença contínua do perfil trouxe à tona sentimentos dolorosos cada vez que ela acessava o Facebook.
Especialistas em psicologia apontam que, embora o memorial digital possa ser uma maneira positiva de processar o luto, também pode ser uma fonte de sofrimento prolongado para algumas pessoas. O luto é um processo único para cada indivíduo, e o ambiente digital pode tanto ajudar quanto prejudicar essa jornada emocional.
Como lidar com heranças digitais
Além das redes sociais, muitos usuários têm grande parte de suas vidas armazenadas em nuvens, e-mails e outros serviços online. O conceito de “herança digital” ainda é algo novo e muitas vezes negligenciado, mas plataformas como Facebook estão na vanguarda ao oferecer mecanismos para que os usuários possam definir previamente o que será feito com suas contas.
É importante que, ao criar perfis em plataformas online, as pessoas tomem consciência das opções que têm para gerenciar suas informações após a morte. Designar um contato herdeiro, por exemplo, pode evitar disputas familiares ou até mesmo o uso indevido de contas. Além disso, ao planejar o que será feito com seus dados digitais, você proporciona paz para seus entes queridos, evitando decisões difíceis em momentos já marcados por dor.
Conclusão
A história de Mariana é apenas uma entre tantas que ilustram como o mundo digital está se entrelaçando com a vida real, mesmo em momentos tão delicados como a morte. O Facebook, ao oferecer opções para o gerenciamento de perfis de falecidos, permite que as famílias lidem com o luto da forma que considerarem mais adequada. Seja mantendo um perfil como memorial, excluindo-o permanentemente ou designando um herdeiro para gerenciá-lo, essas opções oferecem uma maneira de preservar a memória digital de uma pessoa.
Portanto, ao refletirmos sobre o futuro de nossas vidas online, é essencial também pensarmos no que acontecerá após a nossa partida. Afinal, nossa presença digital, assim como nossas lembranças, pode continuar a impactar aqueles que ficam.